quinta-feira, 3 de março de 2011

Professor alerta sobre correta interpretação do número de engenheiros no país

Brasília, 9 de fevereiro de 2011
Por: Portal ABENC-BA

O professor Vanderli Fava de Oliveira, da Faculdade de Engenharia da UFJF faz um alerta sobre estatísticas erradas que vem sendo publicadas em jornais de grande circulação no país. Ele é diretor de comunicação da Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge) e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Formação e Exercício Profissional em Engenharia (Nupenge) e ressalta que um dos erros mais comuns é considerar como engenheiros os profissionais formados em cursos de tecnologia, que têm duração de 2 a 3 anos. “Os tecnólogos não são engenheiros, não podem atuar como engenheiros e não recebem esse título no Sistema Confea/Crea”, explica o professor.

Um desses jornais, por exemplo, publicou em editorial que havia 8.600 alunos matriculados em cursos de engenharia à distância em 2009. Contudo, dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), de acordo com a tabela abaixo, mostram que o esse número não passa de 1.181, em quatro modalidades que formam engenheiros: ambiental, civil, de produção e elétrica. O mesmo jornal publicou, em outra oportunidade, que 55 mil engenheiros formaram-se, no Brasil, em 2009. Contudo, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), o número correto seria bem menor: 38.124.

Total de alunos matriculados em cursos à distância

Cursos
Matriculados
Cursos de engenharia que formam engenheiros
Engenharia ambiental
544
Engenharia civil
113
Engenharia de produção
434
Engenharia elétrica
90
Engenharia
1.181
Cursos de tecnologia que formam tecnólogos (cursos com duração de 2 a 3 anos)
Produção de energia
1
Produção industrial
6.988
Redes de computadores
5
Tecnologia em açúcar e álcool
536
Tecnologia em gestão de          telecomunicações
427
Tecnologia
7.957



Total
Engenharia, Produção e Construção
9.139


Para contribuir com a veracidade das informações, o professor organizou dados com base nas sinopses estatísticas que se encontram na página do Inep (www.inep.gov.br). Apesar de o Instituto ter começado a coletar os dados em 1991, a maioria dos cálculos tiveram por base o ano de 2001, porque, nesse ano, houve mudanças na forma de coletar e tabular as informações.
Nos últimos anos, foram criados cerca de 100 cursos por ano. Em 2009 havia 1.960 cursos cadastrados e, no anos seguinte, esse número ultrapassou os 2 mil. Em 1998, o número de cursos nas universidades particulares era aproximadamente igual ao número de cursos das públicas, mas, hoje, aproximadamente 70% dos cursos de engenharia estão nas particulares.

As modalidades com maior número de curso são a engenharia de produção (357); a engenharia civil (255); a engenharia elétrica (193); engenharia ambiental (162) e engenharia Mecânica (146). Civil, elétrica e mecânica são modalidades relacionadas à Infraestrutura e à Produção. Já a engenharia ambiental é transversal e perpassam todas as demais. “Nos últimos anos estas duas últimas são as que mais crescem em número de curso”, destaca Vanderli.

A engenharia de produção é a engenharia das organizações (empresas públicas e privadas) e o seu crescimento mostra que não basta ter recursos financeiros, equipamentos e pessoal. “A forma de produzir, a preocupação com a qualidade e a produtividade e com a aplicação de melhores processos de produção de bens e de serviços tornou-se algo bastante complexo exigindo que não mais se opte por resolver problemas, mas projetar soluções”, ressalta do professor.

O crescimento da Engenharia Ambiental mostra que a questão da sustentabilidade passou a ser parte inerente dos sistemas produtivos, seja por força de dispositivos legais, por trabalhar com recursos que estão escasseando ou mesmo uma consciência de preservação ambiental.

Cursos de engenharia

Nos últimos 5 anos, foram oferecidas em média 102 vagas por curso. Em 2009, este número aumentou para 125 vagas por curso.

Nos cursos públicos essa média é de 55 vagas por curso e nas particulares este número é de cerca de 140 vagas por curso, em média.

A relação candidato/vaga nos vestibulares para os cursos de engenharia era de 2,5 em média e diminuiu, em 2009, para 2,1. Nas públicas, a média de candidatos por vaga é de aproximadamente 8, enquanto que nas particulares é de 1,1 candidatos por vaga em média.

Nas públicas cerca de 95% das vagas são ocupadas no ingresso, enquanto que nas particulares, há uma média de ocupação que não chega a 50%.

Evasão estimada

Nos últimos 5 anos ingressaram em média cerca de 65 alunos ao ano por curso. A média de concluintes, nesse mesmo período, é de 31, aproximadamente.

Isso mostra que a evasão (alunos que abandonam o curso antes de concluir) é em média, maior do que 50%. Nas públicas, a evasão é de cerca de 40% e nas particulares é de aproximadamente 60%.

Estimativas mostram que os alunos levam de 6 a 7 anos para concluir o curso de engenharia. É a chamada retenção que ocorre principalmente em disciplinas de Matemática e de Física. O maior percentual de evasão ocorre também neste período, ou seja, nos dois primeiros anos do curso.

Ou seja, para cada 10 vagas disponibilizadas nos cursos, ingressam em média 6 alunos. Destes, menos da metade conclui o curso. Se a taxa de evasão não fosse tão alta, em 2009  poderiam ter se formado 60 mil novos Engenheiros no país.

Número de engenheiros necessário no país

Segundo Vanderli, não existem dados consistentes sobre o número de engenheiros necessários no atual estágio de desenvolvimento do país, entre outros motivos, porque muitos desses profissionais não são contratados como engenheiros, o que dificulta os levantamentos estatísticos.

Contudo, em agosto de 2010, durante seminário realizado na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), foi divulgado que, para atender à demanda atual, seria preciso formar 60 mil engenheiros por ano. Isso corresponderia a formar um engenheiro para cada 3.200 habitantes, o que colocaria o Brasil no mesmo patamar de países mais desenvolvidos.

Durante o Congresso Mundial de Engenheiros realizado em Brasília, em 2008, foi divulgado que os Estados Unidos necessitaria de 100 mil novos engenheiros por ano.

Mariana Silva
Assessoria de Comunicação do Confea

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