sábado, 6 de outubro de 2012

Casas nas árvores

Existem povos indígenas, tribos, que vivem nas árvores. São os Korowai, também chamados de Kolufo, povo que vive no sudeste da Nova Guiné. Constroem casas nas árvores em alturas que variam de 8 a 45 metros a partir do nível do solo.

Talvez se pedissem a um engenheiro civil para fazer esse cálculo estrutural ele diria ser impossível. A complexidade dos modelos de cálculo envolveriam tantos parâmetros que a segurança seria quase impossível de se garantir. Portanto, a lição que se apreende com esses povos, que praticam além dessas técnicas construtivas o canibalismo, é de que a construção exige também certa dose de criatividade e arte. E que mesmo os povos mais distantes das novas tecnologias podem contribuir para empurrar esses limites.
 
 
 
As casas são construídas com madeira extraída da própria floresta. E são usadas para abrigar partes da tribo, com dezenas de membros habitando cada casa. Com isso, se abrigam do ataque dos insetos e animais da floresta. E, principalmente, das inundações provocadas pelas fortes chuvas em certas estações do ano.
 
Mas não são apenas esses povos que constroem nas árvores. Novos projetos têm explorado esse conceito das mais diferentes formas. Alguns desses projetos, embora exóticos, são criados para explorar o turismo em algumas regiões do mundo. São ousados e, por vezes, futuristas.
 
 
 
 
 
 
A pergunta é se talvez, em um futuro distante, não tenhamos que morar nas árvores. Ou se essa não seria apenas mais uma "sociedade alternativa". 
 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Moacir Leite, um eterno mestre

Recentemente, volta a memória a saudosa lembrança do eterno mestre Moacir Leite, com quem tive a honra de estagiar no famoso escritório de cálculo estrutural Leite & Miranda. Moacir nos deixou muito cedo. Foi um professor inspirador. Suas aulas de Concreto Armado na Escola Politécnica da UFBa eram sempre singulares e muito procuradas pelos ávidos alunos em busca de conhecimento. Seus trabalhos de conclusão das disciplinas eram um desafio motivador.

Quando tive o primeiro contato com o mestre Moacir foi em sala de aula. Mas conheci verdadeiramente o engenheiro durante o estágio realizado em 1990. Lembro-me de ter ficado encantado com a quantidade de livros que encontrei em seu escritório. Constatei quanto é importante para um engenheiro de estruturas colecionar livros. São nossos companheiros fiéis.

Moacir costumava pronunciar frases marcantes, como a célebre referência a equação de dimensionamento da área de aço nas estruturas de concreto armado. Ele sempre dizia que essa equação deveria ser obrigatoriamente conhecida por todo e qualquer engenheiro civil.

Gostava do uso do computador como ferramenta de cálculo, tendo desenvolvido muitos programas para permitir o cálculo de estruturas em geral. Mas alertava sobre o perigo em se usar tais instrumentos como "caixas pretas". Também empregava o que havia de mais moderno em programas comerciais. E ao longo de sua carreira projetou muitas arrojadas estruturas na Bahia e no Brasil, tendo sido precursor no uso de lajes sem vigas aplicadas em prédios altos.

Tenho comigo uma ótima referência do professor Moacir na sua visão mais alargada sobre a interação entre a engenharia e a arte, no artigo de 1996, que transcrevo na íntegra a seguir.

Engenharia e Arte (1996)
Engº Moacir Leite, MSCE


A dissociação entre criação artística e tecnológica só existe nas produções medíocres. O supersônico Concorde, a ponte pênsil Golden Gate e a torre de Toronto são criações originais, arrojadas, de volumes equilibrados e de clara leitura, eficientes, emocionantes, além de úteis. São criações de engenheiros. A visão de alguns do trabalho do engenheiro como complexo, porém destituído de componentes estéticos, intuitivos e emotivos se constitui num preconceito que ignora a natureza das atividades de engenharia propriamente dita.
Como ocorre em várias profissões de nível superior, muitos dos que recebem o grau de engenheiro não se dedicam às suas atividades mais características. São estas os projetos, a pesquisa e o desenvolvimento, e o ensino. A maioria se atém, entretanto, à administração e fiscalização de obras, à manutenção, às vendas, além de atividades correlatas que requerem formação universitária nas áreas ligadas à matemática, física aplicada e administração técnica.
Os engenheiros que projetam, os que pesquisam e os que ensinam já foram comparados aos músicos que compõem, aos críticos musicais e aos regentes. Em vez de sinfonias criam-se aviões, pontes e torres, freqüentemente transmitindo emoções pelo desafio vencido e proporcionando fruição estética nas produções mais felizes.

Calder criou os móbiles, esculturas que se movimentam elegantemente, penduradas em fios metálicos. Percebendo o equilíbrio e valor estético dos jatos intercontinentais, propôs pintar a frota da Braniff. Executou trabalhos não figurativos sobre toda a superfície externa, assinando na fuselagem. Não havia nestes jatos qualquer marca da companhia, mas eram os mais facilmente reconhecidos nos céus e aeroportos. Alexandre Calder entendeu a afinidade dos seus móbiles com a escultura do Boeing 707. Contra o possível argumento da produção em série, basta lembrar que as gravuras assinadas e numeradas são reproduções de às vezes centenas de exemplares. Os escultores também fazem "múltiplos".
No projeto de estruturas de pontes, torres e edifícios inovadores não existe nem a multiplicidade. São produções únicas, de autoria de um só criador, embora assessorado por diversos especialistas em aspectos particulares do trabalho.

As pontes mais emocionantes, algumas vencendo vãos de mais de um quilômetro, são as pênseis e as estaiadas, penduradas por cabos de aço, das quais uma das mais expressivas é a Golden Gate. Nela, a simplicidade dos cabos parabólicos, pendurais, estrado e torres compõem formas de harmoniosa percepção. Se integram à paisagem da Baía de São Francisco como as gaivotas e o assobio do vento nos tirantes. A ponte de Brooklin é tão amada pelos nova-iorquinos que a cidade parou por uma noite no ano de 1983 para o aniversário dos cem anos, com festa e fogos de artifício. O engenheiro chinês T. Lin projetou uma ponte curva suportada por cabos que se dispõem como uma harpa, a partir de duas montanhas da Califórnia, e venceu novecentos concorrentes em concurso nacional de arquitetura. O impacto das grandes pontes é tão forte, que uma das placas de platina enviada para fora do sistema solar pela nave Pioneer, com desenhos sobre o nosso planeta, incluía a Golden Gate, entre poucos outros desenhos e símbolos. São produções de responsabilidade de um engenheiro criador, que utilizou conhecimento, aliado à experiência e intuição. A ligação do autor com a criação é tão forte que o estruturalista da ponte de Takoma morreu de desgosto poucos meses após o vento ter ocasionado a ruína de sua obra.
As mais altas estruturas são as torres de Toronto (quinhentos e cinqüenta metros) e Moscou (quinhentos e quarenta metros) e os edifícios Petronas Tower, em Kuala Lampur, e Sears, em Chicago, (quatrocentos e cinqüenta e quatrocentos e trinta metros). Para estas edificações, o efeito do vento e terremotos é tão importante quanto as cargas verticais, e a forma é ditada pelo comportamento estrutural. Fazlur Khan, engenheiro paquistanês, criou os conceitos inovadores de tubo perfurado e feixe de tubos. O edifício Petronas tem nas fachadas a estrutura resistente principal, constituindo-se de pilares próximos e vigas altas, que formam em conjunto um tubo com furos, onde são instaladas as esquadrias. O edifício Sears foi idealizado numa lanchonete, quando Khan notou a rigidez de um feixe de canudos. Daí o conjunto de tubos.
 
Petronas Towers


Ao final, harmonia, eficiência e força. A torre de Toronto, otimizada para o comportamento estrutural, resultou em escultura emocionante, de linhas elegantes e simples.
Os grandes concursos internacionais de arquitetura têm premiado, em essência, estruturas inovadoras, criadas por engenheiros projetistas, fazendo parte de equipes de arquitetos.

Tais foram o Museu Pompidou de Paris e a Ópera de Sidney. Nervi, com suas coberturas rendilhadas, e Candela, com as igrejas de tetos em cascas de concreto proporcionalmente mais finas que a casca de ovo, foram ambos engenheiros.
Nas criações mais arrojadas, eficientes e harmoniosas da engenharia o componente estético está sempre presente. No renascimento, o mesmo Michelangelo que projetou a estrutura de maior vão da época, a cúpula de São Pedro, foi o pintor da Capela Sistina e o escultor da Pietá.

Hoje muitos dissociam o trabalho do engenheiro da ocupação do artista, entre eles do arquiteto.
Nas grandes pontes, onde o criador é o engenheiro de estruturas é onde se comprova mais facilmente o valor estético do trabalho. Nos edifícios mais altos, nas coberturas de maior vão, as exigências estruturais são tão grandes que o engenheiro estruturalista naturalmente assume a liderança do projeto, e ao fazê-lo gera edificações elegantes e harmoniosas.
Ao interpretar as leis da natureza com a ajuda do ferramental físico-matemático, o engenheiro, nos seus melhores momentos, produz criações emocionantes e belas.